Sem ti
Pairo sobre a cidade sem ti
entre vultos de língua estrangeira
sem pressa de chegar
a um qualquer destino
o rio baço e resignado
as flores inúteis
sem nexo o frenesim das gentes
atento apenas aos lugares onde
tu estás dentro de mim
À sombra dos plátanos
brincas com as manchas de luz
que nos vestem os corpos
macio o musgo
a brisa acorda murmúrios
segredos da tua alma antiga
há séculos menina
que voltaste a ser nos meus braços
Nos teus olhos translúcidos
ainda passam sombras
que a ternura afasta lentamente
Menina do fundo dos tempos
menina do universo
luz de uma longa noite
Não sentes o mar, as neblinas
o castanho doirado das folhas
com laivos de agonia?
Vem, é outono
José Carlos Teixeira
Publicado em 19 de Março de 2006