Única Estação
Porque agora o que mais nos inquieta
nesta funda ravina onde de rastos
o corpo declinamos suportamos onde o
canto dos pássaros se apresta ao exílio
capaz deste deserto porque agora
aquilo que nos faz voltar os olhos
e não ver além das cores o branco e
o silêncio além da música do sangue
pelos troncos e do frio nos ramos e
nas sebes que ornam o tempo ano a ano
aquilo que agora nos acode é sermos
a voz única que grava nesta pedra
os sítios da memória os rituais
da espera porque agora reparamos e
nos frutos sentimos já os dentes com
a nova revolta chamada talvez resignação
porque temos é forçoso de aceitar que a
estação que vivemos agora e se eterniza
não é mais do que a única estação.
Nuno de Figueiredo
Publicado em 2 de Março de 2006