aves estranhas rumam a norte às vezes cansadas do sul buscam novos pontos cardeais ao vento mudas de impaciência riscam as nuvens em silêncio e batem o desespero nas asas não encontram o sol refugiado aos pés do horizonte tropical coleccionam bátegas de chuva no rosto ensopadas de suor não recuam até às portas do céu e avançam prisioneiras do voo seguem em direcção de constelações etéreas sem olhar para trás é como se uma consciência viva e madura lhes soprasse a voz de comando o sacrifício é o nada a morte o ápice o hálito do infinito desenham mapas de sombras com a luz às costas e gritam de desimporte são essas as aves que não rumam a sul atraídas pelo norte José António Gonçalves