De repente, descobre-se que se habita uma casa que já não é nova. Dezassete anos passaram desde a mudança para um espaço (então) novo, semcontar que a forma pudesse alterar o conteúdo dos dias. A esperança escondia-se estritamente na chegada próxima de um filho desejado, e isso bastava, a par da alegria respirada no diálogo com o primogénito, três anos atentos e "puxados" para uma precocidade algo injusta. A casa aguentou mudanças essenciais no modo de vida, assistiu a uma guerra surda que culminou na paz da independência longamente planeada. Teve manutenções várias, a água exigiu correr por novos caminhos, estragos pequenos foram remediados de quando em quando, outros maiores esperaram um pouco e acabaram sendo atendidos. Ouviu risos e recolheu lágrimas, escutou protestos e contentamentos distintos. Agora, o centro do lar - o lugar do fogo - pediu um recomeço merecido, depois de muitos dias de uso bem mais intensivo do que é comum nas casas urbanas de hoje. A vida dentro da casa também tinha mudado, há tantas luas que já não se contam - a vida nova que nela pulsa, as palavras que correm de um lado para o outro, a partilha mais vasta e verdadeira da alma que preenche os dias. Agora, há coisas que saem dos armários e são inúteis, outras que se desgastaram na malha do tempo, e outras que serão guardadas de novo, em uso continuado a uma nova luz.