Claro que não, de maneira nenhuma. Estava sentada ao meu lado, o desejo agitava-lhe o ventre, ela semicerrava os olhos. De maneira nenhuma, assim não, ainda não. Debrucei-me sobre o seu rosto e beijei-a. Pousei a cabeça no seu peito e esperei pelas suas mãos. Continuava, lento, a ir devagar ao encontro do desejo. Não tinha pressa. Ela apertava-me contra si silenciosamente, parecia dormir e repousava o seu corpo como se a morte ou uma hibernação o tivessem Ocupado. A televisão passava um filme de John Ford. Ela ergueu-se subitamente, afastou-me. Que se passa, perguntei-lhe, surpreendido. Nada, respondeu ela, mas não é o filme de John Ford que acaba de começar? Não o quero perder. De acordo, pensei eu. Levantei-me, fui sentar-me na cadeira do outro lado da sala. Acendi um cigarro. Lá fora caíra a noite há muito tempo. Mas quem tinha vontade de pensar no que se passava lá fora? Um filme de John Ford, repeti em voz baixa. Apaguei o cigarro e concentrei-me na aventura irreal, nas cores magníficas do deserto. João Camilo