Immanuel Kant - o mais saudável, o mais comedido e equilibrado dos espíritos - acreditava no mal encarnado, e não simplesmente "no mal ausência de bem" de Aristóteles, que nos deixa em paz. Por isso Kant não entendia um ser dotado de cornos e cauda, mas simplesmente que o mal é uma força encarnada, um agente positivo. Não vejo como poderemos compreender de outro modo que as nossas mais belas iniciativas se transformem em infernos(...). Porque é que, sem falta, as nossas melhores intenções, as nossas compaixões, as nossas utopias se transformam no inferno? É uma questão que vale a pena pormos. George Steiner, in Os Logocratas, ed. Relógio D'Água, trad. Miguel Serras Pereira.