Estamos todos bem servidos de solidão. De manhã a recolhemos do saco, em lugar de pão. Pão é claro que temos (não sou exageradão) mas esta imagem do saco contendo um pequeno «não» não figura nesta prosa assim do pé para a mão, pois o saco utilizado, que pode ser o do pão, recebe modestamente a corriqueira fracção desse alimento que é tão distribuído, tão a domicílio como o leite ou o pão. Mas esse leitor aí (bem real!) já diz que não, que nunca viu no tal saco o tal «não». Ao que o poeta responde, sem maior desilusão: - Para dizer a verdade, eu também não... Mas estava confiante na sua imaginação (ou na minha...) e que sentia como eu a solidão e quanto ela é objecto da carinhosa atenção de quem hoje nos fornece o quotidiano «não», por todos os meios, desde a fingida distracção, até ao entre-parêntesis de qualquer reclusão... Alexandre O´Neill