Jantáramos os dois pela primeira vez: amizade ou amor, pouco interessava desde que ali estivesses. O meu mundo ia mudando à medida do teu, a cada gesto vão da vã conversa antes que fôssemos p'lo Bairro Alto e enfim o Lumiar, a tua casa. Eu podia contar uma história, dizer como aquele rosto atravessava o meu -mas não, «nada de narrativas, nunca mais». Apenas a certeza de estar morto há tanto tempo, que já não me lembro de cor nenhuma dos teus olhos. Não, já não existe o dia nem a noite e este silêncio deve ser talvez a única resposta. É bem melhor ficar à espera de que não regresses. Fernando Pinto do Amaral