Há uma casa no olhar de um amigo. Nela entramos sacudindo a chuva. Deixamos no cabide o casaco fumegando ainda dos incêndios do dia. Nas fontes e nos jardins das palavras que trazemos o amigo ergue o cálice e o verão das sementes. Então abre as janelas das mãos para que cantem a claridade, a água e as pontes da sua voz onde dançam os mais árduos esplendores. Um amigo somos nós, atravessando o olhar e os véus de linho sobre o rosto da vida nas tardes de relâmpagos e nos exílios, onde a ira nómada da cidade arde como um cego em busca de luz. Eduardo Bettencourt Pinto