Bruxelas não foi a primeira, e possivelmente não será a última, porque pelo menos Nova Iorque continua à espera. Voltar a cidades de que se gosta muito, de que se conhecem quase bem alguns bairros, e onde se experimentou a aventura de passar dias a fio com alguém significativo, é um passo de desfecho imprevisível. Voltar, poucos anos depois, não a sós com memórias necessariamente retocadas, reescritas, refeitas à custa da repetição narrativa, mas com quem se partilha a vida. Voltar e ver que o tempo e a distância permitem a absolvição do que se sofreu, as pequenas crueldades desnecessárias, o abuso do corpo, o desrespeito da alma. Voltar e perceber que algo foi dado e recebido, como uma réstea de luz na escuridão total. Voltar e ter uma cidade nova, sítios insuspeitos, caminhos perfeitos. Voltar e ter uma cidade, a mesma, pacificada, e outra, em doçura. Voltar.