(gentileza de Amélia Pais) Preciso amar-te por isso digo fica esta noite, depois os dias do nosso trabalho farão luz sobre o tempo. Tenho na cabeça a tempestade, tantas vezes recordo aquele corpo que não sabia do prazer que me dava, tantas vezes acordo e o seu nome quase me escapa dos lábios, reconheço as feridas, os golpes todos, se lembro é porque quero esquecer. Fica esta noite, mais outra, o tempo que demora a cumprir a decisão de amar-te. E vamos fazendo o curso dos dias com algumas opiniões parecidas e ódios às coisas culpadas. A gente que diz coisas de silêncio, os andaimes da cidade tapando saídas, as horas certas quando dizemos adeus. E que sentido têm estas lágrimas? Eu vivo neste ano e já me esqueço de mim, apenas vou precisar amar-te, depressa. Venho de distribuir tarefas e de ouvir ferro contra ferro, o cheiro a tinta, barcos em areia artificial, útil mentira que me conto. Regresso à cidade de onde nunca soube partir, pelo caminho passam aos olhos os lugares de jogar à bola, ao berlinde, o quartel a que conseguiram que fugisse. Regresso e não sei se me esperam, alguma vez acreditei na felicidade? Não voltarei a falhar, os pesadelos que este corpo agita são meus também, as suas palavras têm menos peso que o murmúrio do prazer, vou dizer-lhe isto, deves acreditar, trago mais um disco, vamos a outra exposição, vamos dar as mãos junto ao mar. Não gosto da tarefa de ajudar a esquecer, preciso tanto amar-te, vou ajudar a esquecer. Hélder Moura Pereira