Era uma vez uma mulher que imaginava ter um amante, e procurava um caminho onde fosse possível viver o amor. Era uma vez um homem que sabia de ciência certa (tudo nele era assim...) ter uma serva - não uma escrava, note-se, porque acreditava pagar-lhe "the joy of beauty" em livros e música, bens para ela essenciais. A mulher, com o passar de uma longa década, deixou de conseguir imaginar o amor, alegoria impossível. Muito antes de partir, foi enviando palavras de aviso que rebentavam no ar como bolas de sabão. Um dia, depois de uma curta viagem, recebeu um sonho de presente. O homem, mesmo à distância prudente a que sempre se mantinha, não lhe perdoou, e sabê-la amada pareceu enfurecê-lo até ao silênciodefinitivo de quem se julga atraiçoado. A mulher não entendeu se não quando, tempos volvidos, a criada que tinha há uma dúzia de anos se despediu sem aviso prévio. Coitado, pensou. Foi então isto que ele sentiu, este desconcerto, esta maçada. E, com um sentimento de solidariedade, deu-lhe inteira razão.