Gostava de te olhar a dormir mesmo que isso nunca aconteça. Gostava de te olhar, a dormir. Gostava de dormir contigo, entrar no teu sono, sentir seu fluxo suave e nebuloso a deslizar sobre a minha cabeça e caminhar contigo nessa floresta luminosa ondulante de folhas fluorescentes com um sol aquoso e três luas até à caverna onde terás que descer, em direcção ao teu pior medo Gostava de te oferecer o ramal de prata, a pequenina flor branca, aquela palavra que te protegerá da dor a meio do teu sonho, do desgosto central. Gostava de te acompanhar até ao cimo da longa escadaria mais uma vez e de ser o barco para te transportar de volta com cuidado, uma chama entre duas mãos em concha onde o teu corpo se deita ao lado do meu, e tal como nele entras com a facilidade com que se respira Gostava de ser o ar que te habitadurante um breve instante. Gostava de se ser tão imperceptível e tão necessária. Margaret Atwood