A Piedade do Tempo
(gentileza de Amélia Pais)
Em que escuro recanto do tempo que morreu
vivem ainda,
a arder, aqueles coxas?
Dão luz ainda
a estes olhos tão velhos e enganados,
que voltam agora a ser o milagre que foram:
desejo de uma carne, e a alegria
do que não se nega.
A vida é o naufrágio de uma obstinada imagem
que já nunca saberemos se existiu,
pois só pertence a um lugar extinto.
Francisco Brines, tradução de José Bento
Publicado em 20 de Novembro de 2006