(gentileza de Amélia Pais) queria dizer-te como as minhas mãos te procuram. como há um sentido próximo à nossa delicadeza. queria que soubesses a música. o mar dentro da concha. um gesto com o pesar da sede. a coincidência da paz. queria que regressasses bebendo deste poema anelante. a tempo de escutares a impassível alma dos pássaros. desentardecendo a meu lado. azulando a última flor. porque tudo se levanta no murmúrio breve do outono. tudo se perpetua. tudo se reacende. tudo se comemora. unindo as águas dos sentidos à mais longa hora do dia. suspendendo docemente um dos lados do esquecimento. e tudo procura uma voz. um rio. uma irreversível alegria. uma inspiração. um gesto interior ao coração do tempo. uma palavra pulsando fremindo a folhagem da ternura. as mãos cercando o teu corpo. a tua voz diluindo a sede. Daniel Gonçalves