(dedicada ao leitor Hans-Jürgen Stenger) Vozes, vozes. Escuta, coração como outrora somente os santos escutavam: até que o gigantesco apelo levantava-os do chão; mas eles continuavam ajoelhados, inabaláveis, sem desviarem a atenção: eles assim escutavam. Não que tu pudesses suportar a voz de Deus, de modo algum. Mas escuta o sopro, a incessante mensagem que nasce do silêncio. Daqueles jovens mortos sobe agora um murmúrio em direcção a ti. Onde quer que penetraste, nas igrejas De Roma ou de Nápoles, seu destino não falou a ti, tranquilamente? Ou uma augusta inscrição não se impôs a ti Como recentemente a lousa em Santa Maria Formosa. Que eles querem de mim? Lentamente devo dissipar A aparência de injustiça que às vezes dificulta um pouco O puro movimento de seus espíritos. Rainer Maria Rilke, excerto de As Elegias de Duíno, tradução do poeta Paulo Plínio Abreu publicada no jornal "Folha do Norte" entre os anos de 1946 e 1948 e realizada em parceria com o antropólogo alemão Peter Paul Hilbert.