(gentileza de Amélia Pais) Uma onda é amar-te e medo ciúme deste mar tan-tan do meu naufrágio numa canoa de pétala de acácia Uma jangada que me tragas feita de troncos de palmeira ou de um barco de negreiros afundado e dentro de uma concha uma notícia Amar-te é esta distância e junto ao mar senti-lo viajado azul e com estrondo Amar-te é uma fogueira sobre a onda sítio de uma lavra de milho ou mandioca na areia que me foge sob a espuma Amar-te é isto com o teu perdão não agarrar a onda e mastigar-lhe o sal que apenas sei ter já beijado a tua praia Uma onda que penso. Outra em que reparo. A mesma em que pensei e que retorna ao mar. Porque ficar a onda — o impossível (dizem que não havia mar remos de sol nem barcos afundados). Manuel Rui