(ou da constatação por via empírica) Que existem pessoas com uma imagem pública de grande valor (intelectual e de cidadania, aparentando um rigor consigo próprias que lhes permite ser juízes dos outros mesmo sem a menor credencial ética para a "função") e que, na sua vida privada, são capazes de uma frieza desumana, de uma maldade militante e de um reiterado sadismo prepotente, não é novidade para ninguém, ao menos a partir da idade adulta. Daí a expressão complacente e resignada dos "vícios privados, públicas virtudes", cara a uma visão conservadora do mundo e da vida. Mas a verdade é que também existe o contrário: pessoas arrojadas e desinteressadas do culto da sua imagem pública, que muitas vezes são experimentalistas e mais emocionais do que praticantes da fria análise de prós e contras das acções tomadas por entusiasmo, generosas e "atrevidas" na face visível da sua vida, e que cultivam uma pureza de sentimentos, uma lealdade extrema, um cuidado meticuloso e constante nas suas relações da vida privada. Muitas vezes injustiçadas na praça pública, surpreendem-se com a perfídia alheia. A razão é simples: no fundo de si mesmas, recusam-se a acreditar na existência do mal. E daí outra expressão bem conhecida: "quem mal não usa, mal não cuida". Mas lá que ele existe...