(ou as palavras que nunca farei minhas) Bailarina fui Mas nunca dancei Em frente das grades Só três passos dei. Tão breve o começo Tão cedo negado Dancei do avesso De tempo bailado. Dançarina fui Mas nunca bailei Deixei-me ficar Na prisão do rei Onde o mar aberto E o tempo lavado? Perdi-me tão perto Do jardim buscado. Bailarina fui Mas nunca bailei Minha vida toda Como cega errei Minha vida atada Nunca a desatei Como Rimbaud disse Também eu direi: "Juventude ociosa Por tudo iludida Por delicadeza Perdi minha vida" Sophia Mello Breyner Andersen (gentileza de Amélia Pais)