Por delicadeza
(ou as palavras que nunca farei minhas)
Bailarina fui
Mas nunca dancei
Em frente das grades
Só três passos dei.
Tão breve o começo
Tão cedo negado
Dancei do avesso
De tempo bailado.
Dançarina fui
Mas nunca bailei
Deixei-me ficar
Na prisão do rei
Onde o mar aberto
E o tempo lavado?
Perdi-me tão perto
Do jardim buscado.
Bailarina fui
Mas nunca bailei
Minha vida toda
Como cega errei
Minha vida atada
Nunca a desatei
Como Rimbaud disse
Também eu direi:
"Juventude ociosa
Por tudo iludida
Por delicadeza
Perdi minha vida"
Sophia Mello Breyner Andersen
(gentileza de Amélia Pais)
Publicado em 23 de Janeiro de 2007