Pode ser que seja agora, ou não será jamais. Provavelmente está muito longe o instante do prazer vital. Enquanto não suceder este supremo acontecimento em nossas vidas flagradas, e não explodir o milagre nos gestos plenos e gastos, jamais teremos orgasmos completos. E ao invés de Ser profundos, como o que os olhos vêem, uma vez libertos, somos de câncer ou de capricórnio. Quando seremos mais vastos que nós mesmos? Esse destino trágico de nor(destinados): amarras do amor morto no gozo. E para o amor fomos feitos: por isto nascemos das mulheres e depois disso só houveram febres, e sentimentos. É nosso destino beber das tempestades. Impotentes para o amor em nosso peito, para o amor fomos feitos: morrer no desejo com esse nó no peito. E mais os ossos, sêmens, intestinos, medo e bazófia e perdas e degredos e os milhões de cadáveres de que somos feitos. Ah! Esta hora miraculosa. Não foi à toa que sobrevivi a tantos desastres. Do mesmo modo que Pessoa, eu fico sempre à margem de qualquer combate. Campeão sexual, herói para mim mesmo sonhando, amante insabido de todas as mulheres do mundo, eu venho gritando essas palavras como um mudo e se de alguma força me alimento é dessa espera de milênios que me leva. Mas não. Permaneço à margem de mim mesmo, com medo de fitar a imensa face do meu Ser multiplicado. Brasigóis Felício