A linguagem que ensaio comunica o pensamento às formas recolhidas e mudas, cujo espírito reside encoberto na rígida aparência da pedra: às vezes líquida aparência d’água. Ensaio uma linguagem que somente os espelhos poderão apreender: pois que a eles é dado repetir multiplicar os que falando os assediam. A eles me rendo com toda a leveza com que, multiplicado, me incorporo ao milagre de aceitar-me sério ou rindo, sem mais sentir-me o outro no interior - o outro - o que admiro: belo e fugaz - o outro - senhor tão pouco de sua presença pelo que se ausenta atrás da própria face - sem atribulações. Aos espelhos me rendo neste ensaio. No mais quem dirá que serei leve para me incorporar às coisas definidas, para me repetir nos meus desejos, dissociar-me, integrar-me como alento intangível além da superfície dos espelhos? A coisa em si o tempo a duração existe onde? Em nós ou além do círculo que nos circunda? Seremos como o Deus que estando em todos é íntegro e disperso é móvel e é imóvel uno e divisível? A coisa em si o tempo a sucessão do ser para o não ser da vida para a morte da morte para o enigma da reencarnação: Eis o círculo - e dentro o enorme enigma a um tempo breve e eterno. A linguagem que ensaio comunica o sopro alentador. Os límpidos cristais se livrarão de sua beleza silenciosa e fria. Tocados da linguagem cantarão dissolvidos e vivos, livres como águas azuis acomodadas em seu curso de plena liberdade. F. Castro Chamma