(gentileza de Amélia Pais) Uma aldeia ouve desolada O canto do pássaro ferido É o único pássaro da aldeia E foi o único gato da aldeia Que o devorou por metade E o pássaro deixa de cantar O gato deixa de ronronar E de lamber o focinho E a aldeia faz ao pássaro Um funeral maravilhoso E o gato que foi convidado Segue atrás do pequeno caixão de palha Onde io pássaro morto vai estendido Levado por uma menina Que não pára de chorar Se soubesse que isso te deixava tão triste Disse-lhe o gato Tinha-o comido inteiro E depois contava-te Que o tinha visto partir a voar A voar até ao fim do mundo De onde tão longe que é Nunca ninguém volta Seria para ti um desgosto mais pequeno Unicamente tristeza e saudades Nunca se devem deixar as coisas a meio. Jacques Prévert, trad. de José Lima