(gentileza de Amélia Pais) I A rir cais como uma onda No meu coração. No mar da juventude sob a lua cheia Chegou a maré-alta; À volta das enlouquecidas águas A compasso dos teus pés que dançam, Que fazes na minha praia solitária? Enchendo todo o meu coração danças e cantas, Aproximas-te e afastas-te Vezes sem conta. Ris e cais como uma onda Sobre o meu peito. 2 Ao acordar beijas a minha testa E levantas-te à minha frente; Na outra praia do sono lentamente apareces Sob uma nova luz; E tu vens e enches o meu coração E ficas com cabelos revoltos e róseos pés; Os céus despedaçam-se e tu os enches, E todos os jardins da vida e da juventude Estão repletos de flores. Beijas a minha testa ao acordar Enquanto te levantas à minha frente. 3 Suspirando como uma flor inclinas-te e cais Sobre o meu peito; Como ocultas gotas de orvalho caem as tuas lágrimas Molhando o meu coração. Silenciosas camadas de perfume invadem o meu ser Revelando sonhos de felicidade na minha alma silenciosa A delícia do contacto traz a sonolência Aos meus olhos, E os teus beijos percorrem-me os membros. Inclinando-te e suspirando como uma flor Cais sobre o meu peito. Rabindranath Tagore, tradução de José Agostinho Baptista