I Não sei se o sonho que tenho É o sonho que sonho. A mesma Chuva que irriga os vales, Inunda as pequenas aldeias. A lua sobre os amantes risonhos É a mesma, Sombria nos bosques escuros. II Se creres que podes: Tenta. Arrisca a perder-te, Mas desbrava longe. Arrisca à deriva, Mas navega além do horizonte. Melhor é a certeza da derrota Que a vitória na possibilidade. Se creres que podes: Ousa. Confia em ti. III As tuas esperanças Deposita-as em ti. As pedras do teu jardim, Remove-as. Planta as tuas sementes, Varre os teus canteiros, Rega as tuas árvores. Não esperes que o vento Limpe o chão do teu Outono. Limpa-o tu. Sê teu estro. IV Reina sobre ti, Mas não como um César: ergue o teu polegar. Calígula perscruta As viscosidades do teu corpo: reina sobre ti. Estrangula o Iscariotes Nas tuas mãos avarentas: Reina sobre ti. V A mesma terra que calcamos É a manta que nos recama no sono da sepultura. Como uma brisa beijando as ramagens, Passamos... Após dormirmos As folhas cinzas, Ao pé das árvores No Outono alheio, Todos os anos Ainda assim Sobrevirão. Daniel Mazza