as aves do céu que não semeiam nem colhem cantam e cantam numa rua paulistana ao araxá do dia e à dobra da manhã girando nos gonzos um suave azul-sem-sol sobre a fachada dos pequenos sobrados às primeiras árvores que são verdes, ao primeiro homem que assustado, desce a ladeira em mangas de camisa, ao primeiro furgão onde se pode ler ‘reportagem’ em letras verdes sobre um fundo branco, às últimas luzes das garagensalternando amarelos e vermelhos ainda vivas, às luzes ao longe, devoradas pelo serrar-se do dia, à única lâmpada acesa por trás de um basculante à frente de diferentes frascos à distância de uma quadra, no terceiro e último andar de um prédio de uma noite, de um dobre de finados, e à distância de muitos e no último andar da distância, a serra da cantareira, impassível no mais encantado suave, sereno, suspenso como o canto das aves do céu que não semeiam nem colhem, mas calam as franjas do dia Ruy Vasconcelos