Não queriam a vida. Bastava-lhes a imagem. Alérgicos a horizontes não chegavam à janela. Só miravam a paisagem por entre câmaras e lentes cumprindo programas de turísticas viagens. Nem poentes nem montes nem sorrisos nem olhares confiavam à memória. Queriam fotos nos álbuns e carrosséis de slides. À noite, cegos, não viam o rastro do dia nos rostos em torno e, lábios de pedra, não riscavam a faísca do diálogo nem o fogo generoso do convívio. Preferiam o amor da novela. Dissolvidos em poltronas em frente à tela acesa acordados dormiam despidos de si mesmos. Astrid Cabral