Viagem
Era na sombra
Que eu te queria
No grão noturno
Onde é gerada
A solidão
(Esta dos vivos
Que já provei
Na tua boca).
Era no sono
Que eu te queria
Para cobrir-te
Com a algidez
Da estrela morta
Que me alumia.
Era na morte
Que eu te queria
Além da cal
Além do húmus
Tão infiltrados
E diluídos
Para a substância
Da jovem folha
Do amargo fruto.
Os teus cabelos
Teus olhos vivos
As tuas mãos
E a tua boca
Em mim (tão mortos)
Nesta viagem
Para o silêncio
Subterrâneo
Donde esta vida
Vive e renasce
Como uma flor.
Era na morte
Já sem mistério.
Era na morte
Já sem segredo.
Jorge Medauar
Publicado em 29 de Abril de 2007