Era na sombra Que eu te queria No grão noturno Onde é gerada A solidão (Esta dos vivos Que já provei Na tua boca). Era no sono Que eu te queria Para cobrir-te Com a algidez Da estrela morta Que me alumia. Era na morte Que eu te queria Além da cal Além do húmus Tão infiltrados E diluídos Para a substância Da jovem folha Do amargo fruto. Os teus cabelos Teus olhos vivos As tuas mãos E a tua boca Em mim (tão mortos) Nesta viagem Para o silêncio Subterrâneo Donde esta vida Vive e renasce Como uma flor. Era na morte Já sem mistério. Era na morte Já sem segredo. Jorge Medauar