É bom mudar de casa, de janela, arrumar de outra maneira as ilusões, tratar de coisas puras como tintas e sofás, pôr ordem entre os livros e a vida, simular a liberdade. Parece-nos possível voltar a acreditar na mão que nos estende um pé de salsa, na pechincha da beleza, quando passa no poente da razão. Apetece cometer uma loucura, comprar um telescópio, decorar o canto nono dos Lusíadas, subir umas escadas do avesso, pensar que nunca mais teremos frio. José Miguel Silva