As ruas nunca dormem. Não há tempo para isso, guardam os prédios que se esvaem em sono vertical. Os porteiros não dormem nunca. Não há tempo para isso, guardam os donos nidificados em sonhos de existência. As mães nunca dormem, velam os filhos errantes em bares e becos obscuros. Os famintos, os guardas, as prostitutas, assim como os cães, exercem a insônia da sobrevivência. Pelos olhos insones de todos estes meus olhos vêem o inominado, o imaterializável. E, por muito ver, meus olhos nunca dormem. Francisco Perna Filho