As Palavras
Se fosse possível escrever sem nenhuma tensão
com a oval fluência de um vagaroso ócio
poderíamos libertar essa plácida lua
presa entre os rígidos flancos do ventre
Teríamos então a lucidez do sono
e as pálpebras ordenariam o fluir das linhas
que estariam de acordo com o silêncio dos montes
e com a voluptuosa lentidão do mar
No vagar de lúcidas surpresas
a palavra teria a vaga monotonia
de uma nuvem que nada mais dissesse
do que a clara indolência do dia
António Ramos Rosa
Publicado em 7 de Julho de 2007