Se fosse possível escrever sem nenhuma tensão com a oval fluência de um vagaroso ócio poderíamos libertar essa plácida lua presa entre os rígidos flancos do ventre Teríamos então a lucidez do sono e as pálpebras ordenariam o fluir das linhas que estariam de acordo com o silêncio dos montes e com a voluptuosa lentidão do mar No vagar de lúcidas surpresas a palavra teria a vaga monotonia de uma nuvem que nada mais dissesse do que a clara indolência do dia António Ramos Rosa