Quando o sossego é só sossego e a visão do mar espraia a nossa identidade sentimo-nos cúmplices da terra na densidade azul e respirando pertencemos à leve vibração de um ser anónimo vagamente feliz que renova em nós os alvéolos do sangue e dança na linfa com os seus élitros verdes O peito levanta-se com os seus campos e regatos e ergue-se até à cúpula das estrelas latentes O ócio murmura nas esferas e cintila nos monótonos fulgores e o sentido de tudo liberta-se de si mesmo para ser a liberdade de um presente inextinguível Se se pode tocar o ardor na sua fuga tentamos projectá-lo em grãos incandescentes para que a boca que os lê possa reencontrar o seu sabor primordial António Ramos Rosa