O múltiplo sentido das permutações do tempo que o poema permite assombra. Uma sequência de imagens simples, e finalmente convencionais, a rápida sucessão das unidades dinâmicas do verbo, combina as três perspectivas que os filósofos dizem do eterno, do instante, e do perene. A terra mesma se transforma, a sombra das nuvens ao voar sobre as casas dá repouso e abrigo à obra das nossas mãos. Passam os anos como dias, o dia de agora é inteiro e completo como outrora. Lendo, já sei, talvez nada aconteça: vento nas folhas, água, uma estrela que cai. Comendo a sopa quente diante da tv a ordem da história e da sociedade não está prevista no menu. Ainda assim são essas imagens voláteis a razão do poema, enquanto dura o sol. António Franco Alexandre