Mar obsoleto
Foi desde sempre o mar
e multidões passadas me empurravam
como a barco esquecido.
Cecília Meireles
Diante deste mar revolto,
que, outrora, simbolizou
a esperança de um tempo,
estou sozinho e calmo.
Agora já não penso,
sou apenas memória,
lembrança de outros caminhos,
que se perderam
no próprio caminho do vento.
Tento, em vão, recompô-los
e presto atenção às ondas,
se quebrando nos rochedos,
trazendo conchas e búzios,
respostas mudas do mar.
O pensamento é como a água-viva,
atirada na areia,
misteriosa e sedutora.
Quem ousaria romper
O seu invólucro transparente
e suportar a ardente ferida
por puro descaso?
Não! Deixa-o dormir,
longe da praia,
numa profundidade de algas,
num emaranhado de algas,
numa discreta espessura e consistência de algas...
Deixa-o dormir!
Agora sou apenas memória!
Mauro Mendes
Publicado em 26 de Julho de 2007