Foi desde sempre o mar e multidões passadas me empurravam como a barco esquecido. Cecília Meireles Diante deste mar revolto, que, outrora, simbolizou a esperança de um tempo, estou sozinho e calmo. Agora já não penso, sou apenas memória, lembrança de outros caminhos, que se perderam no próprio caminho do vento. Tento, em vão, recompô-los e presto atenção às ondas, se quebrando nos rochedos, trazendo conchas e búzios, respostas mudas do mar. O pensamento é como a água-viva, atirada na areia, misteriosa e sedutora. Quem ousaria romper O seu invólucro transparente e suportar a ardente ferida por puro descaso? Não! Deixa-o dormir, longe da praia, numa profundidade de algas, num emaranhado de algas, numa discreta espessura e consistência de algas... Deixa-o dormir! Agora sou apenas memória! Mauro Mendes