O sentido é uma ingénua formação que respira e não culmina porque é o frémito da identidade na distância ou num inesperado oásis Pensamos que é a revelação de um segredo o amadurecimento de um fruto e que a vida vai recomeçar e prosseguir com um novo alento mas logo a matéria do tempo se interpõe entre o desejo e os nossos gestos completamente alheia ao nosso desejo de ser um corpo que habita o espaço e no espaço se consuma O não-sentido é irredutível e em nenhum mistério vibra o que está por detrás dele ou não porque o seu silêncio é tão absoluto como absoluto é o silêncio de Deus Nada pode redimir o desamparo essencial o tremor de ser sem ser nos abismos da existência Só a palavra que escuta e na sua escuta forma um espaço lento pode recolher a luz do improvável como se este fosse uma respiração e através dele o mundo se reconstituísse em ordenadas colunas de um jardim banhado pela orla indolente de um voluptuoso mar António Ramos Rosa