Somos três as Parcas Na barca do destino, Somos três as Fiandeiras, Laçadeiras da existência, Somos três as Mulheres Desta terra brasileira. Sou Cloto, A que fia, A jovem índia, A que lamenta a opressão, O genocídio, A vida transformada em morte no fim do dia. Sou Láquesis, A que tira a sorte, A que determina o comprimento do fio; Munida de um fuso E de um mapa-múndi Localizo almas; Vim da África, Minha pele é negra, Cruzo mares Em navios negreiros, Escuros e sombrios Como a escravidão. Sou Átropos, Nada abranda meu coração, Corto o fio dos novelos, Na hora em que Deus manda; Sou alva como lírio, Velha como a História, Minha única glória, A de agora, A de sempre, A de nunca mais, É cavar a cova dos mortais. Somos três as Parcas Que ligam este mundo Ao outro mundo; O Inferno ao Céu E o Céu à Terra; O homem a si E ao seu princípio. Somos três as Parcas Neste labirinto, Seguindo passo a passo o fio Que conduz ao Infinito. Somos três as Parcas Nestes bastidores, Nestes teares, Criando formas Que se rompem, Frutos de nossas entranhas, De nossa substância, De nossas teias de aranhas. Somos três as Parcas, Duras e impiedosas, Filhas da Necessidade, Lei que rege as mudanças, Que planta e ceifa As contínuas esperanças. Somos três as Parcas, Fixando símbolos, Plantando sementes Nos campos das mentes Que lavramos. Somos três as Parcas, Somos três as Moiras: Índia, Negra, Ibérica, Marcas deste continente Que se fez América. Raquel Naveira