Também as pedras morrem, disse Vieira a pensar na eternidade do ser. Aqui são mais humanas as pedras no seu rosto inclinado para o sofisma da água. Miram-se nela mas não são seduzidas pela sua passagem; uma passagem volúvel de quem tem o mar à espera como um sonho previsto na loucura encrespada de algum barco. Os homens servem-se delas para os seus aparatos; não as deixam limpas no seu pensar – terrível – e que obrigou Vieira a dar-lhes sangue para que nada faltasse ao sacrifício. Trago de cor a sua vermelha companhia. E obedeço. Pisei-as como convém ao meu destino de pequena coisa transumante. Não me baixei para elas num beijo de suborno. Agora descrevo-as como posso e quero. Pedras mortais que se tornam mentais e são a substância de um panorama surdo, espessa melancolia, a solidez da ausência que esmaga o desespero. Armando Silva Carvalho