“Ó cousas, todas vãs, todas mudaves, qual é tal coração que em vós confia?” Sá de Miranda A casa de meu avô ficou sempre inacabada, a infância que lá vivi também. Os lobos do lugar, onde já não há lobos, mastigam a sua rosa no sangue de outros corpos – o meu corpo não seria uma casa, casa nenhuma se ficasse concluído. Uma casa humilde, mudável, interrompida é uma espécie de poema onde o desejo de permanecer é mais intenso do que o desejo de pronunciar a palavra “perfeição”: uma coisa viva jamais é perfeita. Em cada rosa há um lobo que navega onde parece não haver água nem olhos nem coração que veja o caminho da água. Casimiro de Brito