O tempo, bem o sabes, escorre das mãos, e todas as horas são abissais. Em qualquer cidade, as ruas, assim como o grande rio, desembocam sobre o imponderável. Por isso, teus pés aprenderam, muito cedo, a desembrulhar os caminhos. Tua passagem, o espanto da abstrata carne. Tua palavra, o desespero das traças. Teu olho sobre a mulher que flutuava à janela. Tuas mãos doadas aos jarros de flores murchas. Teu peito, um cais soçobrado na madrugada. Muitas terras percorreste, e hoje, cada uma delas, dentro de ti, é inefável lavoura. Carlos Augusto Viana