O passeante não sabe se procura a sombra que vem do alto ou o vício que nasce do fundo, o anjo ou o testículo – deixa-se humildemente contaminar e diz, Talvez eu possa cantar alguma coisa. Bêbado e cego por tantas imagens nos olhos cansados – apocalipse todos os dias. Esgotado por tantas batalhas perdidas e outras adiadas o passeante encosta o ouvido ao pó das palavras e bebe. Escuta. O motor do mar, o azul das altas montanhas. Mas eu o que ouço é uma ambulância nas traseiras da casa – o coração caindo a meus pés como se me tivessem levado para os cuidados intensivos. Sem saber se procuro ou encontrei: o anjo, o fascínio. Talvez as palavras saibam, talvez se lembrem que o barro apodrece. Já não se ouve nada, ninguém, sequer a brisa na persiana corrida. O passeante senta-se na escada onde não acontece nada. Casimiro de Brito