(gentileza de Amélia Pais) do outro lado das palavras os ramos altos das figueiras a misturar o tempo com restos de casas abandonadas levanto as mãos no meu sonho e uma ferida de água nas pontas dos dedos durará aqui como um beijo imaginado lembrando correndo dormindo falo da outra face dos rios de coisas velozes como a terra onde dói um sorriso onde a noite se dobra nítida ao fervor das sementes onde o corpo adivinha essa cor rasgada nos lençóis depois olho-te em segredo respiro o que tu respiras escrevo essas palavras adormecidas no ar olho-te longe da minha insónia contemplo o horizonte quebrado dos montes o trigo o feno as estevas rio-me a sombra dos meus braços move-se junto aos gatos entre avencas e silenas fico imóvel atento onde começará este esquecimento? como será o meu silêncio no teu rosto? deita-te sobre mim vem escuta as árvores abrem-se ao meio nas ruas da vila nas pedras cansadas nas amoras junto ao sol dos muros vem não tenhas medo sou teu e também isto são pormenores vem era uma vez dois magos numa floresta Joaquim Cardoso Dias