Debaixo do colchão tenho guardado o coração mais limpo desta terra como um peixe lavado pela água da chuva que me alaga interiormente Acordo cada dia com um corpo que não aquele com que me deitei e nunca sei ao certo se sou hoje o projecto ou memória do que fui Abraço os braços fortes mas exactos que à noite me levaram onde estou e, bebendo café, leio nas folhas das árvores do parque o tempo que fará Depois irei ali além das pontes vender, comprar, trocar, a vida toda acesa; mas com cuidado, para não ferir as minhas mãos astutas de princesa. António Franco Alexandre