(gentileza de Amélia Pais) Aos amantes das belas letras Faço chegar os meus melhores desejos Vou mudar o nome de algumas coisas. A minha posição é esta: O poeta não cumpre a sua palavra Se não muda o nome das coisas. Com que razão o sol Há-de continuar a chamar-se sol? Peço que se lhe chame Micifuz O das botas de quarenta léguas! Os meus sapatos parecem ataúdes? Saibam que de hoje em diante Os sapatos chamam-se ataúdes. Comunique-se, anote-se e publique-se Que os sapatos mudaram de nome: A partir de agora chamam-se ataúdes. Bom, a noite é larga Todo o poeta que se estime a si mesmo Deve ter o seu próprio dicionário E antes que me esqueça Ao próprio deus há que mudar-lhe o nome Que cada qual o chame como quiser: Esse é um problema pessoal. Nicanor Parra, trad. de Henrique Manuel Bento Fialho