Mudanças de Nome
(gentileza de Amélia Pais)
Aos amantes das belas letras
Faço chegar os meus melhores desejos
Vou mudar o nome de algumas coisas.
A minha posição é esta:
O poeta não cumpre a sua palavra
Se não muda o nome das coisas.
Com que razão o sol
Há-de continuar a chamar-se sol?
Peço que se lhe chame Micifuz
O das botas de quarenta léguas!
Os meus sapatos parecem ataúdes?
Saibam que de hoje em diante
Os sapatos chamam-se ataúdes.
Comunique-se, anote-se e publique-se
Que os sapatos mudaram de nome:
A partir de agora chamam-se ataúdes.
Bom, a noite é larga
Todo o poeta que se estime a si mesmo
Deve ter o seu próprio dicionário
E antes que me esqueça
Ao próprio deus há que mudar-lhe o nome
Que cada qual o chame como quiser:
Esse é um problema pessoal.
Nicanor Parra, trad. de Henrique Manuel Bento Fialho
Publicado em 23 de Setembro de 2007