O tempo começa quando nascem certas flores. O tempo denso de uma noite, o seu perfume, a sua ardência, de uma flor que não pode ver o dia. O tempo acaba quando morrem certas flores. O tempo evanescente de uma garoa: o seu afago, a sua frialdade, de uma flor que não pode ver a luz. O tempo é noite, é bruma: permanência do escuro entre as estrelas, uma passagem de arrepio entre calores. O tempo começa e o tempo acaba, tudo que dizemos sobre flores, rápidos, efêmeros, doentes; nossa mirada, uma miragem, resvala em jardim, de madrugada. Fernando Peres