Não leio o poema como o azul dos olhos nem vejo as naves como a luz do ocaso nada transformará lágrimas em frutos nada redimirá as faces desbotadas. Pássaro apenas o bico inerte as pernas rotas os pés inchados O silêncio perturba meu silêncio nauta que se perdeu imobilizado pêndulo complexo sistema de horas e sons estagnados. Na gaveta do tempo guardei os sapatos de outrora o velho terno marrom passeia em conúbio com as manhãs sepultadas na poeira longínqua Ficou a pele riscada de luto o cimento categórico do presente A vontade de rir envelheceu Um dia alguém há de encontrar a fera e penetrando sua crespa geografia saberá que seus olhos ardem como brasas. Florisvaldo Mattos