Dorothy Parker é uma das autoras com lugar cativo no Modus. Não é, pois, de estranhar que a edição dos seus contos (Relógio d'Água, 2007), a partir da edição organizada pela autora em 1944, me tenha atraído a atenção gulosa e cintilante com quem se olham, folheiam e sopesam os livros escritos pelos que escolhem as palavras como desejaríamos fazer. Estes contos merecem bem a leitura. Como em qualquer colectânea, há os que nos parecem mais conseguidos e os que deixam um ligeiro sabor a pouco, sem contudo abalar a avaliação positiva do conjunto. Parker teve uma vida interessante e, por consequência inafastável, bastante agitada e por vezes até tempestuosa. A sua inteligência e perspicácia, a crueza do seu olhar sobre os outros e a feroz autocrítica com que se punia transparecem em quase todos os seus poemas e em alguns destes contos. Destaco Um Telefonema por ser, ainda hoje, um excelente exercício sobre a condição feminina nas relações amorosas (?), e uma ilustração fiel (reconhecível, infelizmente) da luta interior entre o que se sabe dever fazer e a tentação de se lançar exactamente no sentido oposto. Por isso, Liliana, aqui vai esta sugestão de leitura. Ler Dorothy Parker é certamente um desafio e um prazer.