Uma multidão de que te alheias. Vozes sobrepostas destroem o sentido e a tua inclinação por ideias de ordem desvia-te para um lugar escuro, silente (assim o pressentes), uma sala do lado esquerdo, ao fundo, onde ninguém está. Em rigor há uma luz dispersa, uma atmosfera de encanto e morte. Um espelho espreita. Os circunstantes degladiando-se num arremesso de vozes. Estão nele, são espreitados. Sonhas a armadilha que o voluntário espelho revela. O tempo suspende-se sob o efeito de um sortilégio. Nessa sala onde a obscuridade não é total (os olhos vêem mais depois da atenção), a multidão a teu lado, sitiando-te, é engolida pela perseguição geométrica. Antecedes o momento em que o mundo acaba e uma fúria de vitorioso esquecimento apaga os despojos das irredutíveis vozes e a imagem do teu rosto perseguindo o jogo perseguidor. Luís Quintais