Há, houve uma rotação do teu corpo e há qualquer coisa de irreparável que me fizeste quando rodaste no mundo – o quase homem aposta tudo em que voltará. Joga tudo em que o mundo regressará a essa forma de uma onda suspensa na música a essa rotação fora dos eixos. Porque é que dizes então «irreparável»? Irreparável aponta para onde? Irreparável é o mesmo que antiquíssima e não idêntica? A cicatriz é irreparável porque a ferida é perpétua, esquecida e perpetua? Tocas-lhe a milímetros de distância, como quem não quer a coisa, e tu devias dar e não dar por isso. Dir-se-ia que o ar se moveu, que uma coluna do tempo se deslocou, dançou como a luz por entre nuvens na parede verde de um canavial. Manuel Gusmão