A velocidade da luz IV
Há, houve uma rotação do teu corpo
e há qualquer coisa de irreparável
que me fizeste quando rodaste no mundo –
o quase homem aposta tudo em que voltará.
Joga tudo em que o mundo regressará
a essa forma de uma onda suspensa na música
a essa rotação fora dos eixos.
Porque é que dizes então «irreparável»?
Irreparável aponta para onde?
Irreparável é o mesmo que antiquíssima
e não idêntica?
A cicatriz é irreparável porque a ferida é perpétua,
esquecida e perpetua?
Tocas-lhe a milímetros de distância,
como quem não quer
a coisa,
e tu devias dar e não dar por isso.
Dir-se-ia que o ar se moveu, que uma coluna
do tempo se deslocou, dançou como a luz por entre nuvens
na parede verde de um canavial.
Manuel Gusmão
Publicado em 6 de Novembro de 2007