Deixar-se estar. Quedar imóvel. Por entre as mãos por entre os gestos invisíveis no tecer as cores formas e objetos compondo panoramas. Deixar-se estar. Os olhos mansos (derramado olhar banhando muros) amanhecendo em concreção de pedra e limo; o cais solene vai barrando águas em postura de silêncio e longa espera. Deixar-se estar. E as mãos amaciando gestos revolvendo sonhos na modulação do instante percebido pelos rostos e corações em muda contemplação. Deixar-se estar. Enquanto (vivazes e esquivas) gaivotas brancas sobrevoam ilhas; e o mar azul (traçado em vagas e horizontes) derrama nas praias restos de vento. Deixar-se estar. Quedar imóvel. Para que nem um pensamento (fímbria de luz) perturbe o enovelar-se que há no vôo marítimo das ondas convertido em salto. Deixar-se estar. Contemplando os objetos esquecidos (limitadas formas de extensão exata) com amor de quem os tem como encontrados depois de longa busca após os ter perdido. (Velhos remos lembram velhos braços ancorados ao velho porto do esquecimento; contariam velhas estórias se pudessem ser ouvidos em silêncio e muita fé) Contemplando os objetos esquecidos: barcos lemes búzios quilhas velas e mastros tombados ao som dos ventos. E enquanto o instante se consome lento na floração de formas colorindo espaços derramados sons revelam idos e anunciam no tempo o que se aguarda: ao longe se divisa e vão surgindo corcéis de espuma patinando águas desfazendo brumas semeando cravos (brancos e breves) que se vão abrindo em jorros de luz: cristais da aurora. Humberto Fialho Guedes