Metamorfose e Massacre (fragmentos) Os dedos demoram-se na sombra. Suspendem-se no sangue poeiras germinantes, turvos fluidos, fios translúcidos de sal e deslumbramento que detêm o silêncio e estancam a luz. Desvenda o coração o que o coração oculta. A sombra revela o significado oculto desse ritual que o fogo acumula no obscuro sinal de uma ruína sem nome. Chamam-lhe escrita, outros preferem nomeá-la como infinito exercício de adivinhação, dizem-na outros arte, enigma redentor a que se entregam os que crescem para o abismo e perturbam as trevas. Recompensa ou castigo, eis o que obstina. Por essas horas as mulheres arrastam pelas praias o espesso manto da escuridão, convocam os mortos às encruzilhadas, libertam trémulas luzes de obscuros papéis e sombras calcinadas. Corre implacável o curso da impaciência sob a ofendida serenidade do poema Amadeu Baptista