Ontem à noite
(gentileza de Amélia Pais)
Disseram-me: ontem à noite
ninguém esteve aqui. Mas a casa,
porque está iluminada? Porque
se ouvem os passos habituais
no corredor? Porque ficou,
na escada uma sombra
esquecida?
Sim: ontem à noite,
o silêncio transformou-se
em música de obscuras
presenças ? como se
não bastasse o vento
no silêncio dos quintais;
e reconheci, pelo que
me disseram, o eco da tua voz,
e até algumas das palavras
que, outrora, trocámos entre
vinho e risos. (Como, no entanto,
responder-te? Se atrás da porta,
sob a primeira impressão de vida,
só o frio, e a humidade do Inverno,
me acolhem?)
Nuno Júdice
Publicado em 7 de Dezembro de 2007